O festival da Lampreia e do Sável

Num destes passados fins de semana convidaram-me para ir ao festival da Lampreia e do Sável a Entre-os-Rios. Só por convite, de facto, porque para pagar das nossas bolsas é de facto imcomportável. E porque é que se torna incomportável, simplesmente porque o seu preço é actualmente proibitivo sendo que a razão é a seguinte: Trata-se de dois peixes em vias de extinção, muito especialmente aqui na região do Rio Douro. As razões naturalmente não é difícil de adivinhar: Poluição e construção de barragens ao longo dos percursos dos rios. Daí que hoje em dia, não é qualquer um que come lampreia, coisa que não acontecia em tempos passados. Os Portugueses sempre gostaram muito destes dois tipos de peixes, que não são só peixes de rio mas também de mar. São peixes migradores, vêm do mar, mas passam uma grande parte da sua vida no rio, no tempo da desova sobem pela foz dos rios e vão desovar nos mesmos, levando os ovos/peixes anos a tornarem-se adultos até à altura de maturação sexual, em que abandonam o rio e vão para o mar.
Os pescadores desde sempre sabiam a data da afluência destes peixes ao rio, que vai entre sensívelmente Fevereiro e Abril/Maio. Nos tempos da minha juventude e do que eu conhecia, a abundância destes peixes era uma dádiva de Deus. Recordo-me de aqui na Cantareira, junto à entrada da barra do Douro a abundância deste peixe era tanta que cada sável dos grandes (p.ex.)
custava a mera quantia de 10$00, imaginem na moeda actual, são 5 cents, até dá para rir, mas é só para mostrar como eram peixes acessíveis a toda a gente, aliás passa-se o mesmo com o bacalhau, que antigamente era como se dizia comida dos pobres e os ricos desdenhavam, mas que hoje só os ricos é que o comem para ser de qualidade.

E como a comida dos pobres, se analisarmos bem as gastronomias tradicionais de todos os recantos do mundo, normalmente é mais simples, natural e de melhor qualidade em nutrientes, é natural que hoje a cozinha tradicional portuguesa é a que mais apela aos portugueses. Assim sendo a lampreia e o sável ainda atraem muito apesar do preço.

Segundo li no rio Tejo e Guadiana, estes peixes quase tendem a desaparecer, no Rio Douro há poucos mas ainda há, o rio Douro tem sido palco de construção de várias barragens mas desde a construção da Barragem de Crestuma no Lever, que a pesca destes peixes deixou de render e apelar aos pescadores. Era ver nesta altura do ano na" Ribeira de abade", local na margem do Douro, montes de pessoas a comprar estes que hoje são preciosidades. No Rio Minho, parece que mesmo assim o problema não é tão grave...

E passando à frente deste historial, para quem gostar de saber, e não julguem que os dados que dei sobre os preços me situam na época jurássica, porque não é bem assim, a destruição do meio ambiente em força começou a sério só há algumas décadas atrás em ritmo acelerado.

Bom, e o festival da lampreia...é assim:
Entre-os-Rios, foi sempre e desde que me conheço, o local emblemático para as gentes do Porto irem como se diz "à lampreia". É uma localidade meio campestre, aonde culmina uma estrada muito antiga que vai desde a cidade do Porto serpenteando entre curvas e recantos a borda do rio Douro, estrada sempre ladeada por vegetação e árvores frondosas, sempre com o cenário do rio ao nosso lado, muito lindo mesmo. Chama-se Entre-os Rios, porque lá convergem o rio Douro e um dos seus maiores afluentes, o rio Tâmega. É um local bem lindo...

E vou me ficando por aqui, não sem deixar a receita da "LAMPREIA À BORDALEZA", que é cá um petisco, que não vos digo, o restaurante onde fui é um daqueles considerados tipo "Tasca". meio tosco, mas onde se come bem como toda a gente sabe, a lampreia pela foto pode não excitar muito as papilas, mas também, o arroz de cabidela de galinha e o arroz de sarrabulho de Ponte de Lima não têm grande aspecto mas são gulosos que chegue... Já agora e antes da receita, o pasto foi antecedido por uma entradinhas das nossas regionais, patanisquinhas de bacalhau, ricoizinhos, bolinhos de bacalhau, presuntinho e salpicão caseiro á maneira. A lampreia é acompanhada com um arrozinho branco bem soltinho e feitinho em refogado de cebola e azeite. A sobremesa é claro foi leite creme caseiro.


A receita acho antes por bem deixar aqui um site maravilhoso de cozinha tradicional da bela região minhota e aí terão pano para mangas para se deleitarem com receitas e outras coisas muito simpáticas sobre o nosso Portugal e de como há muita coisa e muita gente de que nos orgulharmos neste país, ao contrário do que pregam os negativistas que actualmente abundam por esse país fora ...
www.saboresdominho.com ---Lampreia à Bordaleza---

Texto e fotos:Lu