segunda-feira, 30 de março de 2009

A música e o desastre da Ponte da Barcas


Não venho aqui noticiar o desastre da Ponte das Barcas( nos velhos tempos aprendiam-se rigorosamente estes passos da nossa história nos manuais escolares, hoje já nem estou tão certa, porque hoje tudo é possível, mas pelo menos a maioria das pessoas deve ter ouvido falar do assunto nos noticiários da TV), mas venho sim e apenas referenciar o assunto, por arrasto de um concerto a que assisti no sábado à noite no Coliseu do Porto.
Mas para quem me visite e porventura não saiba do que estou a falar, vou dar uma pequena visão sobre o título deste post. Sendo assim, aí vai uma dica da história da cidade do Porto e de Portugal, assunto que deveria estar talvez no meu outro blog, mas porque tem a ver com coisas que eu gosto de fazer e falar (neste caso o concerto), entendo estar melhor localizado aqui.

Fez ontem 200 anos que a cidade do Porto foi alvo de uma tragédia que se desenrolou na zona do cais da Ribeira onde hoje se encontra a ponte de D.Luis I( ex libris desta nossa cidade) e local onde os navios atracavam então para fazer as suas trocas comerciais. Nessa época, a travessia do rio Douro fazia-se recorrendo a barcos, barcaças, jangadas e batelões. Em 1806, já em plena época da Revolução Francesa e Napoleão a mostrar os seus instintos expansionistas, foi inaugurada no Porto a famosa Ponte das Barcas, projecto feito com base em 20 barcas ligadas entre si por cabos de aço, dispondo-se sobre elas uma plataforma de pranchas e que através de uns alçapões podia abrir para dar passagem aos barcos que subiam e desciam o rio.. Saliente-se aqui o autor deste projecto, Carlos Amarante, engenheiro e arquitecto natural da cidade Braga, entre cuja obra se distingue a conhecidíssima Igreja do Bom Jesus em Braga e a Igreja da Trindade no Porto.
Esta Ponte das Barcas foi a primeira travessia fixa que existiu para se passar do norte para sul nesta área vital da cidade do Porto.

Entre 1807 e 1814, Napoleão invadiu a Península Ibérica, iniciando-se a chamada guerra Peninsular. Em Portugal entrou por 3 frentes, sendo uma delas por Chaves e em direcção ao Porto. No dia 29 de Março de 1809, era uma quarta-feira, as tropas francesas comandadas pelo Marechal Soult, conseguiram romper as linhas defensivas do Porto, bombardeando e invadindo a cidade . A população aterrorizada, fugindo ao ataque da cavalaria francesa que cometia as maiores atrocidades, saqueando, violando e matando, fugiu em direcção à ponte, tentando escapar para a outra margem do rio. Foi então que se deu a maior tragédia de sempre nesta cidade. A Ponte das Barcas, com tanto peso, deu de si, as primeiras barcas afundaram-se e a massa da multidão precipitou-se na torrente caudalosa do rio. Consta que mais de 4000 pessoas terão morrido neste desastre.

O concerto memorável a que assisti no sábado passado, naquela que é a maior sala de espectáculos do Norte, fazendo este ano 68 anos de existência, o COLISEU DO PORTO, teve como fim homenagear " As bravas gentes, vítimas de tão grande tragédia "...

PORTUGAL, é o nome do Poema Coral Sinfónico, encomendado para o efeito e em estreia absoluta. Foi escrito pelo Padre Ferreira dos Santos e composto sobre poemas da "Mensagem" de Fernando Pessoa que, carregados de simbolismos, "revisitam a mitologia do passado heroico de Portugal...". Integrado num programa de eventos agendados para esta altura, designadamente, exposições evocativas, inauguração de um monumento evocativo no local, missas de requiem e concertos, este Poema Sinfónico contou com a actuação de duas orquestra, 500 coralistas, além de uma soprano, um tenor e um actor declamador.
Segundo disse o autor, estes poemas de Fernando Pessoa em que se inspirou, são a expressão de uma grande fé na capacidade dos portugueses vencerem e superarem os tempos de infortúnio, ontem (quando venceram e expulsaram os franceses) como hoje certamente e termina assim:
É A HORA! Valete, frates.

Algumas das imagens documentam o que escrevi, sendo que a foto com um baixo relevo evocativo da tragédia, é da autoria de Teixeira Lopes e encontra-se na Ribeira no local onde se deu a tragédia, designado como "as alminhas" e que o povo da Ribeira venera como se a tragédia fosse actual e fossem os seus que tivessem morrido. De notar as velinhas, que ao longo de todo o ano vão sendo postas por alma dos desaparecidos...

Texto e Fotos: Lu

1 comentário:

  1. Oiii minha linda
    Tô passando pra matar as saudades desse blog maravilhoso.
    Grande beijo no seu coração......
    Boa semana ....

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